4 de Outubro de 2008, um dia bonito, cheio de sol.
Estava feliz!
Prestes a fazer um mês de casada, tinha 27 anos há 4 dias, estava a preparar a minha casa nova para viver e profissionalmente tinha começado a leccionar mais um ano lectivo.
Até aqui tudo muito normal, mas quis Deus preparar-me novas experiências, nova forma de ver o mundo e a vida.
Deu-me esse sinal através de uma dor.
Como já disse nesse dia fez bom tempo, tal como hoje, e à tarde tive varrendo todo o passeio envolvente do telheiro da minha casa (77,725m2) em cimento grosso, o que torna a tarefa mais complicada do que o normal. Chegando quase ao fim comecei a sentir dores entre a mama e axila direita, mas não querendo deixar o trabalho por acabar mesmo com dores acabei de varrer tudo. À noite foi o concerto de comemoração do dia Mundial da Música no Centro Cultural na qual foi dirigir 3 músicas. Isto tudo para explicar o porquê de ter sentido uma dor. Pois quando finalmente me deitei na cama do lado oposto à dor, senti-a novamente. Posso traduzi-la por se assemelhar a um punhado de agulhas a picar constantemente no mesmo local. Passei a mão na zona, mas nada encontrei até porque estava com o período e não era a altura mais indicada para fazer apalpação.
No dia seguinte, Domingo, foi um dia normal até chegar à noite e na mesma posição que me tinha deitado no dia anterior senti a mesma dor na qual achei muito estranha e aí não pude deixar passar sem pedir ao meu marido que me ajudasse a tentar encontrar alguma coisa.
Foi ele que encontrou uma “bolinha” mais pequenina que um grão de ervilha e que estava bem escondida entre a mama e a axila direita.
O mundo ficou tão confuso para mim nesse momento.
Será um tumor? Estou cancerosa? Vou morrer? Uma enorme quantidade de perguntas que me surgiram de imediato. A minha vontade seria correr para o Centro de Saúde, mas era quase 1h da madrugada! Meu marido tinha de entrar ao serviço, fiquei ali sozinha sem querer acreditar no que me poderia estar a acontecer. Fui logo ligar o portátil è internet e fiz pesquisas. Uma informação tranquilizou-me: “ Quando dói é benigno!”
No dia seguinte por volta das 7h dirigi-me ao Centro de Saúde, e como ia dar aulas as 9h e não tinha por hábito faltar tentei ir cedo porque para além do mais às segundas-feiras os hospitais têm sempre mais pessoas.
Entrei no Centro de Saúde e não vi ninguém. Dirigi-me ao andar do internamento e perguntei a que horas abriam as consultas de urgência. Posso dizer que fui atendida com arrogância com um: “urgência que é urgência só lá para as 9h” o meu nervosismo e ansiedade eram tantos que várias lágrimas “gordas” caíram-me pela cara e não consegui dizer mais nada. Recordo tudo isto como se fosse hoje… há coisas que nos marcam… só quem as passa poderá compreender.
Uma enfermeira ao ver o meu estado de ansiedade trouxe-me para as urgências e conversou comigo para tentar perceber o que se passava e deu-me algo para me acalmar. O médico não estava lá, estava em casa e estavam prestes a mudar de turno. Aconselharam-me ir para casa relaxar um pouco e voltar. Quando voltei já era o meu médico de família que estava de urgências. Sentada à espera e vendo que nunca me chamava entrei para saber se a minha ficha estava lá. Informou-me que estava inscrita nas urgências do médico que tinha saído de serviço, mas disponibilizou-se para me atender. Resultado da consulta, uma ida à terceira para fazer uma ecografia mamária sem direito a acompanhante!
Nos dias que se seguiram a tal "bolinha" tanto aparecia como desaparecia ligeiramente.
No dia 10 de Outubro de 2008 fiz a primeira ecografia mamária no Drº Vasco Aguiar - Angra.
Antes de fazer a ecografia o médico pediu para levantar os braços e colocar as mãos atrás do pescoço para proceder a apalpação. Durante a apalpação misteriosamente a "bolinha" desapareceu. Tentei mostrar ao médico o local, mas também não a consegui encontrar. Deitei-me para proceder à ecografia e o médico tentou fazer as perguntas normais de históricos familiares, sempre alegando que isto não era nada que às raparigas novas não acontecia nada... blá, blá, blá... Fez a ecografia só na zona da mama e não fez na zona que me queixava que era entre a mama e axila. Disse estar tudo bem e que não havia motivo para preocupação. Saí satisfeita, mas ao mesmo tempo confusa o porquê de ter desaparecido. Seria sistema nervoso?
À noite quando me deitei apareceu outra vez a bendita "bolinha" e voltei a sentir algumas dores. Como tinha de embarcar na manhã seguinte para a Graciosa, porque tinha aulas para dar, não voltei ao consultório.
Fui ao médico de família, mas como a ecografia não acusava nada o médico ficou descansado e não fez caso dizendo que deveria ser psicológico e que não tocasse ali para desaparecer... Engoli aquela conversa em seco e fui para casa.
Tinha sempre a sensação que algo se passava e que só cabia a mim tentar descobrir e lutar.
Todos os dias vigia a "bolinha" e conforme o esforço que fazia com o braço ela aparecia, por isso a suspeita que poderia ser uma hérnia era cada vez mais presente uma vez que o esforço do braço é que ditava o seu aparecimento e algumas dores.
No dia 28 de Outubro a minha Filarmónica fez uma gravação para a RDP-Açores e tal exigiu muitas horas da minha parte a dirigir com o braço direito. Esse foi o dia que mais me custou pois tinha dores horríveis, mas o meu braço era essencial para um bom desempenho da gravação e fiz esse sacrifício de algumas horas.
No dia seguinte procurei novamente o médico, pois estava mais do que provado de que não era psicológico, mas bem REAL. Receitou-me um anti-inflamatório com a condição de que se não passasse voltar à consulta para ir a especialista.
O anti-inflamatório resolveu as dores, mas a "bolinha" que antes aparecia e desaparecia tornou-se firme.
Passados os dias do anti-flamatório voltaram as dores e recorri novamente ao médico que por uma questão de talvez "descargo de consciência" pôs-me na lista de espera para a ida ao cirurgião quando este se deslocasse à Graciosa.
Assim fiquei à espera... à espera... e a 15 de Dezembro soube que estava um cirurgião na Graciosa e fui ao Centro de Saúde saber se o meu nome estava na lista para aquele Cirurgião. Não me souberam dizer, mas informaram que a partir das 16:00 iam fazer os telefonemas de contactos para as consultas. Nesse mesmo dia tinha a festa de Natal da Creche e Jardim de Infância "Balão" e quando ia desligar o telemóvel para preparar as crianças para entrar em palco...finalmente tocou e era do Centro de Saúde...Tinha consulta no dia seguinte.
Dia 16 de dezembro de 2008 fui à consulta, tive sorte de ir parar a boas mãos... Antonio Mora - Mostrei e expliquei toda a minha situação, fez-me perguntas, mas não tinha sinais de que era tumor. Perguntou-me se queria tirar ao que respondi: " Se não volta a doer, quero!", assim a 17 de Dezembro fiz uma mini cirurgia com anestesia local. Assisti a tudo, mas não vi quase nada, bem que tentava ver, mas não era muito fácil. No final o cirurgião perguntou se eu queria ver e disse que sim...(tive pena de não ter fotografado). O que foi retirado tinha a largura, o comprimento e a grossura dos dedos indicador e médio juntos. Quando vi aquilo a minha expressão foi "parece uma bife de vaca" pois era mole tal qual como os bifes antes de cozinhados...era liso, enfim nada indicava nada... Levei pontos e fui descansada à minha vida toda satisfeita que não iria ter mais dores...
12 de Janeiro de 2009 fui chamada ao Centro de Saúde. Sempre pensei que fosse por causa da credencial de deslocação que iria fazer no final da semana para Lisboa para fazer um exame à coluna que ainda hoje ficou em standby. Tinham telefonado do Hospital da Terceira que teria de embarcar de emergência...achei tudo muito estranho até porque a informação que tinham era para fazer uma ecografia abdominal que nada tinha haver com a cirurgia que tinha feito. Ainda perguntei se não se teriam enganado no nome, pois não estava a perceber o porquê de ter de embarcar se estava tudo bem quando simultaneamente comecei a raciocinar que ainda não tinha completado um mês da minha pequena cirurgia e que certamente seria algo de "mau" que se estaria a passar. Não dava tempo de ir naquele dia, de forma que embarquei no dia 13 de Janeiro de 2009.
Fiquei sempre convicta que iria chegar à Terceira e a notícia que iria ter era de que afinal era um TUMOR... Sempre calada sobre esse assunto preparei-me psicologicamente para o dia de falar com o médico...
Continuação deste meu testemunho nos próximos dias...